Sim, trabalhar viajando é incrível! Você conhece lugares, pessoas, faz conexões, experimenta novas comidas, culturas, e por aí vai. No entanto, as pessoas esquecem de contar o lado B, e por isso muita gente fica com uma imagem glamourizada sobre esse tipo de viagem. Mas tudo bem, eu vou ajudar e falar um pouquinho, caso você tenha muita vontade de fazer isso na sua vida. Depois não diga que eu não avisei…
Desde que entrei na empresa que trabalho atualmente, sempre quis fazer parte da equipe que viaja: o time do Field Sales Executive. No final de 2015, após uma reestruturação no departamento de Vendas, para minha surpresa, fui promovido para a equipe que tanto sonhava. Pronto! Eu queria viajar a trabalho e explorar regiões? Então toma!
Nos dois primeiros anos, minha missão era desbravar e fazer crescer a carteira de clientes nas regiões Norte e Nordeste. Aceitei de peito aberto, afinal, eu estaria “em casa”. Comecei a fazer algumas análises e definimos que nesses dois anos eu visitaria: Bahia, Pernambuco, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Maranhão, Amazonas e Pará.
A saga começou por Salvador e Recife, e estar em lugares que eu já conhecia foi ótimo porque pude encontrar amigos no tempo livre, além de ver o mar por alguns dias. Aviso: quando viajamos a trabalho são raríssimas as oportunidades de entrar no mar ou fazer algo parecido. A não ser que você queira acordar muito mais cedo para fazer isso. E te digo: depois de um tempo trabalhando em um determinado ritmo de viagens, você não vai se sentir com energia suficiente para isso. Vai ficar naquele dilema: durmo mais e passo meu dia como uma pessoa normal, ou vou à praia? Nas minhas primeiras viagens, escolhi a primeira opção porque quis economizar energia para encontrar os amigos à noite. Salvador e Recife foram nesse esquema, e somente em Fortaleza tirei um final de tarde para ir à praia e se sentar lá na areia. Depois de um dia rondando pela cidade em um calor acima dos 30 graus, era o mínimo que eu podia fazer. Piscinas dos hotéis? Nem vi a cor.
Apesar da maioria das pessoas reclamarem dos procedimentos de uma viagem/aeroporto, nunca vi problema nisso. Mas vamos a um resumo: arrumar a mala, se arrumar, fazer o caminho até o aeroporto (em algumas cidades já é uma mini viagem), check-in, Raio-X, caminhar até o portão de embarque, esperar a fila de entrada, sentar-se, ficar no avião o tempo que precisa para chegar no destino, desembarcar (com pessoas ansiosas levantando assim que o avião para), andar até as esteiras, pegar a mala, entrar no carro ou meio de transporte até a cidade, chegar no hotel, fazer check-in, subir até o quarto, se jogar na cama. Sim, se jogar na cama! Depois da quarta ou quinta viagem, é quase instintivo. Se você tiver uma reunião próximo do horário da chegada, é triste. Apesar de ser uma sensação incrível de descoberta, ficar zanzando o dia todo por uma cidade que você não conhece, ou conhece pouco, é muito cansativo. Inclua várias reuniões no meio disso, que era o que eu fazia. Sol, chuva, calor, frio, não importa. Você tem que chegar nos locais das reuniões, porque você está lá para isso.
Por falar em chuva, tive que me acostumar com as tempestades no meio da tarde em Manaus, que são quase um ensaio para o fim do mundo. Mas isso não significa que o clima vai ficar mais agradável. Que calor, meu Deus! Fui a primeira vez para Manaus e Belém durante o mês de abril e só voltei lá em novembro, na esperança de que pegaria uma temperatura mais agradável. Doce engano. Nesses lugares eu aprendi que ir caminhando para a reunião é sempre uma péssima ideia. 5 minutos andando e eu estava molhado como um maratonista no final da prova. Ah! E durante as tempestades; trânsito intenso. Eu diria que é um pouco estressante você estar a caminho de uma reunião e ser pego de surpresa por uma chuva que ameaça destruir o mundo… E depois de uma hora, ela nem existe mais. Legal, não é?
Mesmo com o calor e as tempestades, dei sorte de ter uma irmã morando em Manaus nesse período. Aproveitei para ficar lá alguns finais de semana, e com isso fiz passeio pela Amazônia, vi o encontro dos rios (Negro e Solimões), mergulhei com o boto-rosa, visitei uma tribo, fui à algumas das famosas cachoeiras de Presidente Figueiredo, e me esbaldei nos rios. Que delícia tomar banho de rio, gente! No entanto, foram as pessoas em Manaus e Belém que me fizeram adorar essas cidades. Os manauaras e os belenenses são muito receptivos, alegres e gostam de conversar. Não deu outra: eu fazia as reuniões e depois ficava lá conversando sobre outras coisas. Eles têm orgulho da sua cultura, gostam de falar sobre ela e são super atenciosos para dar indicações de comidas, lugares, passeios, etc. Eu aprendi muito nas viagens que fiz para lá.
Na minha última visita à Belém, entrei em um taxi e durante a conversa expliquei que estava no meu último dia, e que não tinha tido muito tempo de explorar a cidade. O taxista se compadeceu e, gratuitamente, me levou em alguns lugares famosos. Visitei o Ver-o-Rio (onde vi um pôr-do-sol incrível) e a Praça Batista Campos, que é lindíssima. Inclusive, as praças em Belém são uma coisa incrível.
Na capital paraense também encontrei minha amiga Thayza para um almoço no Ver-o-Peso, e jantei com meu amigo Benedito na Estação das Docas. Conheci uma parte da cidade assim, em parcelas. Na maior parte do tempo eu estava dentro de um taxi ou em uma sala fechada conversando sobre negócios. Detalhe dessa última ida à Belém: na volta para São Paulo, o voo foi cancelado e tive que dormir em um hotel para esperar a próxima opção de voo. Detalhe número dois: era meu aniversário.
Ainda no segundo ano de trabalho, fiz uma viagem que tinha como roteiro: Natal – João Pessoa – Recife. Apesar de ter que ir trabalhar na minha terra, a essa altura do campeonato eu já estava bem estressado, queria ficar mais dias em casa (quem diria, hein?!), tinha ido ao hospital com crise de ansiedade meses antes e as viagens em sequência estavam vindo cheias de cobrança também. Como a melhor parte do meu trabalho era viajar, planejei esse tour e fui mesmo assim. Fiquei só dois dias em Natal – o suficiente para fazer as reuniões e ver minha família/amigos. Saí de Natal à noite com destino à João Pessoa, de ônibus. Desci em João Pessoa e, movido pelo cansaço, esqueci de pegar minha mala na saída. Lembrei desse pequeno detalhe apenas quando o taxi parou na frente do hotel, na orla do bairro Manaíra. Fui para a rodoviária da cidade, e descobri que o destino do ônibus era Campina Grande. Todas as coisas que eu iria precisar no meu único dia na capital paraibana estavam dentro da bendita mala, então decidi, no meio do desespero, pegar um taxi de ida e volta para Campina Grande (125km de João Pessoa) na esperança de chegar junto com o ônibus no terminal, e recuperar minha mala. Para minha sorte, conseguimos chegar a tempo, e resgatei minha bagagem. Cheguei de volta ao hotel às três horas da manhã, dormi, e o outro dia nem preciso dizer, não é? Zumbi.
Depois de experiências como essa, comecei a enxergar meu limite e pensar o quão saudável essa quantidade de viagens em sequência estava sendo. Em alguns momentos, eu voltava de uma viagem e 3 ou 4 dias depois, embarcava para outra. Nunca reclamei de ter que viajar, mas não dá para dizer que é saudável fazer todo o processo (que eu já descrevi) tantas vezes em um curto período, certo? Nessa época ficou bem claro para mim a diferença entre viajar e viajar a trabalho. Parece que não, mas existe um abismo gigantesco entre essas duas opções.
Aí você pode dizer: “poxa, mas os comissários de voo fazem isso direto”. Eu poderia responder com a grosseria “por isso que eles são comissários”, mas eu entendo e vejo que é diferente. Nem tento comparar o que é mais ou menos cansativo, porque cada pessoa tem uma experiência diferente. Mas quem já teve que fazer 5 ou 6 reuniões no mesmo dia, por exemplo, sabe do que eu estou falando. Nas duas ou três últimas, você já não sabe nem o que está falando. Inclui aí todo aquele processo da viagem que eu comentei, que o negócio fica doido.
A lição que ficou foi: trabalhar constantemente viajando pode até ser uma delícia, mas você passa uns nervosos. Então antes de tomar a decisão de se jogar em um trabalho que exija esse tipo de rotina, pense bem se é isso mesmo que você quer, e se você aguenta, principalmente. Foi um período incrível na minha vida, como eu já falei, mas não é só alegria, glamour, eventos chiques, sucesso e paz. Está um pouquinho longe disso…
Obs: Juro que escreverei muitas vezes sobre as coisas sensacionais que vivi nos 3 anos que trabalhei viajando. Sim, tem mais da parte boa, e ela é muito boa!
Que loucuraaaaaa! Fiquei estressada só de imaginar você indo para Capina Grande de táxi, atrás da sua mala… Aff! 😣 Amei a franqueza das suas palavras e lembrei que em uma dessas viagens, para alguns quantos destinos, você ainda tirou tempo para ler o meu livro e fazer observações valisosas. Pense num cara gigante! ❤️
Noooooooooooooossa!!!! Verdade… Ainda arranjei um espacinho pra ler seu livro e dar pitaco, haahahahahahahaha! Que época boa, mas tensa ao mesmo tempo. 🙂 =P